A LUTA DAS MULHERES POR DIREITOS 

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Atualmente, as mulheres podem ser vistas circulando livremente em diversos espaços e participando ativamente da vida pública e política. Se hoje elas podem se manifestar, trabalhar e realizar atividades pelo seu próprio prazer, foi porque ao longo da história existiram outras mulheres e figuras parceiras que prepararam e lutaram pelos lugares e por direitos básicos de cidadania feminina, inclusive pelo direito ao voto. 

Antes que pudessem se dirigir aos locais de votação, as mulheres tiveram que sair dos papéis impostos de cuidadoras dos lares e dos filhos para caminhar contra ideais enraizados na sociedade que precedem os tempos do Império. Mas, como se deu a trajetória para que se chegasse ao cenário atual? Como as pautas foram discutidas nos meios sociais e, ainda, quais foram os primórdios do Sufragismo no Brasil e no mundo? E de que forma as transformações sociais influenciam nas tomadas de decisões de personagens que tomaram a frente de movimentações históricas?

Para entender o início do Sufragismo, é preciso levar em conta dois momentos que marcaram os modelos políticos no ocidente, nos séculos XVIII e XIX. O mundo passava por duas revoluções das quais dariam à sociedade o caminho para que os países aderissem à democracia. De um lado, o continente americano via em 1776 o aparecimento da primeira Constituição que se tem registro relacionada a uma República. Do outro lado do mapa mundial, em 1789, a França revolucionava as pautas com discussões e contestações do poder monárquico. 

Esses momentos são caracterizados como o epicentro daqueles que viriam a ser as mudanças rumo ao Sufragismo Universal e a conquista de direito ao voto feminino pelo mundo. Homens brancos e proprietários se viam em laços fraternos de liberdade e igualdade, desde que não fossem pessoas negras ou mulheres, cuja vida ainda era jogada à subordinação masculina, limitando-se ao conforto do lar e liderança dos homens, de modo geral.

Mas ainda que houvesse mudanças em prol da justiça social, as mulheres ainda foram deixadas às abas dos homens e de costumes de repressão. Às mulheres que se expressassem politicamente era dado falas de ações “perigosas, fora de controle e indesejadas”, como pontua a historiadora Mônica Karawejczyk em sua tese de Doutorado As Filhas de Eva Querem Votar. Apesar do cenário patriarcal, a partir dessas revoluções e exclusões femininas mantidas com as novas Constituições, outra mudança nadava para a superfície a fim de nunca mais procurar afundar: as mulheres frente aos próprios interesses políticos e sociais. 

A luta das mulheres pelos seus direitos perdurou por anos, é certo que ainda hoje tem-se que bater os pés para lembrar do muito que já foi conquistado, e lembrar o papel feminino na história com suas importantes conquistas políticas, econômicas, culturais e sociais ao longo dos séculos faz parte da perpetuação dos movimentos que marcaram as tribunas desde o período colonial. 

Durante a Revolução Francesa, por exemplo, as mulheres tiveram papel de destaque na estruturação dos movimentos pelo país e até mesmo no desfecho nos atos que culminariam no modelo social e político francês que conhecemos hoje. Participações em protestos, mobilização da população para escolha de representantes, presença nas galerias na Câmara dos Deputados, organização de debates para discorrer sobre questões políticas e o Congresso Nacional; essas foram algumas das frentes em que as mulheres francesas se mostravam ávidas pelas mudanças sociais e de direitos para todos. Passada a Revolução, a novidade maior para as mulheres desta nação se deu pelo direito ao divórcio, sendo elas deixadas de fora daquilo que também participaram. 

Em meio à exclusão das mulheres dos direitos civis na França, com a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão pela Assembleia Nacional da França, em 1789, e junto às demais mulheres que movimentavam a França, estava Olympe de Gouges, figura que detinha ideias contrárias às impostas para as mulheres na época da revolução. 

Olympe de Gouges é autora de milhares de escritos que foram publicados e espalhados antes e depois da Revolução Francesa, exigindo lares para idosos, viúvas com filhos e órfãos, oficinas para desempregados ou um imposto de luxo. Ela ainda publica reflexões sobre as condições dos escravos, com ideias abolicionistas antes mesmo que se pregasse a fraternidade na França, onze anos antes da Revolução.  

É Olympe quem publica o que é considerado o primeiro manifesto feminista com reivindicações pela participação das mulheres francesas na vida pública, com a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, dois anos após a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1791. No documento, a Olympe clama pelas mulheres e chama atenção para assuntos como o sufrágio universal, o divórcio, liberdade de expressão, justiça, igualdade de direitos e outros assuntos pioneiros. 

Contrária ao “império do Terror pós-revolucionário imposto por Robespierre e seus comandados”, a feminista foi encarcerada na Abadia de Saint-Germain-des-Prés  e guilhotinada em 1793. 

No Brasil, desde antes dos primeiros passos nessa jornada se tem registro de personagens femininas que já contestavam seus lugares sociais marcados como no xadrez. Bem como no jogo, peças foram fundamentais para que a rainha, as mulheres no caso, pudessem se movimentar com maior liberdade no tabuleiro do corpo social.

Contestações de gênero passaram a pipocar pelos estados brasileiros revelando nomes que passariam a estampar trabalhos acadêmicos em prol de compreender o que se passava entre as brasileiras para que a ebulição acontecesse. Tudo isso enquanto revoltas, conflitos e levantes marcavam o país rumo à Revolução Constitucionalista de 1932. 

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